sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um Violino no Telhado - Politeama (estreia)













Um Violino no Telhado - Teatro Politeama (Lisboa)
Quinta-feira, 21 de Outubro 2010 - 21h30 - Estreia


Um Violino no Telhado é um clássico do Teatro Musical. A história de um pobre leiteiro judeu em 1918 no fim da Rússia Czarista, da sua vida na pequena aldeia de Anatevka e da luta entre a Tradição e o Coração, é possivelmente, a par de Jesus Cristo Superstar, a melhor produção de Filipe La Féria até hoje.
Para isso contribui um elenco de luxo, música inesquecivel e uma história intemporal.
Tive o prazer de assistir à estreia deste grande musical a convite do meu amigo Filipe La Féria, que está definitivamente de Parabéns por mais este triunfo teatral.
Vamos a uma review mais detalhada.

Sobre o Elenco:

José Raposo (Tevye) - José Raposo é um dos melhores actores da sua geração. Já foi dito antes, não estou a escrever nada de novo. E se no caso da Gaiola das Loucas ele tornava o musical divertido, em Um Violino no Telhado, torna o musical inesquecivel. A sua representação do leiteiro Tevye está ao nível de Chaim Topol ou Zero Mostel. Com um timing perfeito, conseguiu arrancar gargalhadas ao público com o mais simples dos gestos. Vocalmente irrepreensível, tornou a famosa canção "If I were a rich man" que do ponto de vista da tradução não está muito do meu agrado, num estrondoso êxito. José Raposo consegue dar a volta às letras e transmitir a mensagem da melodia perfeitamente. Se este não for o papel da sua vida, será sem dúvida um dos grandes papéis que José Raposo desempenhou. Bendita a hora em que ele deixou a moribunda revista à portuguesa pelo Teatro Musical.

Rita Ribeiro (Golde) - O papel de Rita Ribeiro não é exactamente central na história, que gira bastante em torno de Tevye e das filhas, mas mesmo assim Rita Ribeiro consegue dar um toque maternal a uma personagem que é normalmente representada como uma mulher amargurada. Vocalmente Rita não tem muito que cantar a solo, mas quando o faz, faz bem.

Carlos Quintas (Capitão dos Cossacos) - Carlos Quintas sobe ao palco em Lisboa como Capitão dos Cossacos, em participação especial, uma vez que não fazia parte do elenco no Porto (estava na altura em Lisboa com West Side Story). Carlos Quintas não desilude e cumpre bem o seu papel de "quase-mau-da-fita". Vocalmente também não tem muito que cantar, mas quando tem cumpre com mestria o seu dever.

Joel Branco (Lazar Wolf) - Este não é o papel da vida de Joel Branco. Também porque o seu carniceiro só é ponto central da história enquanto este está comprometido com a filha mais velha de Tevye. Contudo Joel Branco torna o carniceiro avarento num homem que, não obstante ser um tarado que tenta deitar a mão às meninas jovens da aldeia, tem bom coração.

Helena Rocha (Yente) - Helena Rocha é a casamenteira de Anatevka. Uma mulher alcoviteira que arranja os casamentos dentro daquela pequena comunidade. Helena Rocha representa-a muitíssimo bem e não tenho nada a apontar-lhe.

Hugo Rendas (Motel) - Hugo Rendas, no papel do alfaiate Motel é hilariante e tem uma óptima química de palco com José Raposo/Tevye, o pai da sua amada Tzeitel. Vocalmente está também muito bem, tendo no entanto o azar de lhe caber a ele a única música do musical que é um nadinha irritante, "Miracle or Miracles".

Cátia Garcia, Sissi Martins e Sara Cabeleira (Tzeitel, Hodel e Chava) - Quer a Cátia, quer a Sissi quer a Sara estão as três muito bem no papel das filhas mais velhas de Tevye. Vocalmente estão todas lindamente e nos seus papéis também. Cátia/Tzeitel é a primeira a casar e confrontar o pai com o dilema tradição ou coração? Depois chega a vez de Hodel que se apaixona pelo jovem judeu revolucionário Perchik, acabando por ir ter com ele à Sibéria onde este se encontra preso depois de partir para Kiev e participar numa greve. Sissi Martins canta lindamente e de forma comovente a canção "Far from the home I love". Sara/Chava é a última a deixar a casa do pai para se casar na Fé de Cristo com o cossaco Fyedka, algo que Tevye nunca lhe perdoa. A Tradição é a Tradição e isso já é mudar demasiado os costumes. Merecem as três os parabéns.

Ruben Madureira (Perchik) - A Ruben cabe o papel do jovem revolucionário comunista que chega a Anatevka vindo de Kiev e que acaba por mudar o rumo da vida das filhas de Tevye. Ruben cumpre bem vocalmente o seu papel e ainda melhor em termos de representação. Como alguém que detesta comunistas, Ruben conseguiu fazer-me detestar o personagem dele e isso é sinal de que estamos perante um bom actor!

Rui Andrade (Fyedka) - O personagem de Rui não é particularmente proeminente mas quero deixar aqui uma nota. Não para a sua bela representação enquanto cossaco mas para o enorme talento vocal de Rui que me parece a mim que é pouco aproveitado neste personagem que praticamente não canta. Contudo o Rui tem à sua frente um futuro promissor no Teatro Musical se lhe derem mais oportunidades.

Quanto ao resto do Elenco, estão todos de parabéns. Não vou referir os outros actores um a um por questões de logística do blog, mas estão todos igualmente de parabéns, incluindo o corpo de baile dirigido por Inna Lisniak e a orquestra sob a batuta do Tiago Isidro.


Sobre a produção e a estreia:

Como disse acima, esta é das melhores produções de Filipe La Féria desde Jesus Cristo Superstar. Os cenários são originais e o uso da robótica demonstra um constante esforço de fazer melhor e mais moderno. Nesse aspecto está ao nível de qualquer produção Europeia.
As únicas "falhas" que posso apontar a este grande musical é a tradução/adaptação de algumas das canções e o facto da orquestra continuar a ser muito pequena e haver uso talvez excessivo de música pré-gravada em algumas canções. Penso que se houvesse um investimento um bocadinho maior no sentido de haver uma orquestra maior, era justificado e todos ganhavam. Mas como estamos num País onde "cultura" é só o futebol, não se pode censurar fortemente a falta de uma orquestra maior. Afinal, o teatro musical é considerado comercial e como tal não vive dos subsídios do Estado como os teatros que produzem peças que ninguém vê.
A estreia foi um sucesso com vários minutos de aplausos em pé para os actores, a que se seguiu um último aplauso a Mariana Rey Monteiro que partiu e deixou o Teatro Português mais pobre.
Sendo uma estreia, claro, o Teatro estava repleto de pessoas conhecidas do social, da TV, do espectáculo e da política...incluindo a Ministra da Cultura.
E aqui tenho de deixar uma nota de repúdio e nojo para com a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, que se tivesse vergonha na cara não punha os pés em nenhum Teatro depois daquilo que o SEU Governo se prepara para fazer com o novo Orçamento de Estado. Filipe La Féria saudou-a diplomaticamente, coisa que eu não teria feito no seu lugar. Uma Ministra da Cultura que tudo faz menos defender a cultura deveria ser persona non grata em qualquer local onde se faça cultura. E o Teatro Musical em Portugal bem pode agradecer ao Ministério da Cultura e à sua ridícula Lei do Mecenato o facto de não estar mais desenvolvido.


De resto um grande Musical que todos devem ir ver!

2 comentários:

Anónimo disse...

Um grande Musical,um trabalho de EXCELÊNCIA,um abraço Sr La Féria por continuar a ACREDITAR neste país.

p i disse...

vi ontem este belíssimo musical e fiquei sem palavras.
ri, apaixonei-me, cantei, tive vontade de dançar.
fui totalmente envolvida pelo espectáculo.
todo o elenco, músicos e o Sr. Filipe La Féria estão de parabéns pelo caminho que percorreram e pelo espectáculo que mostraram ontem.
que se façam mais musicais assim.
5*