sexta-feira, 17 de julho de 2009

Piaf - Politeama (Estreia)

Estreou ontem em Lisboa o Musical "Piaf" encenado pelo meu amigo Filipe La Féria que me convidou para assistir ao mesmo. E assim foi.
O Musical em questão conta a vida de Edith Piaf unindo as músicas da cantora francesa à história da sua vida. Tal como no musical "Amália". Piaf contudo é um musical minimalista, intimo...e até divertido.
Os cenários são parcos. Aliás...praticamente não existem, a orquestra está ao fundo do palco e toda a atmosfera é bastante pessoal. Confesso que, apesar de saber da existência deste musical nunca me tinha dado ao trabalho de saber mais sobre ele. Fiquei deveras agradado com o resultado. Na estreia os papéis principais foram interpretados por:

-Wanda Stuart (Piaf): Gostei muito da Wanda apesar de ter gostado mais da sua performance enquanto actriz do que como cantora. A voz dela é de facto muito boa, mas falta-lhe aquele toque áspero que caracterizava a voz de Edith Piaf. Mesmo assim ela foi muito convincente no seu papel. Uma grande actriz.

- Noémia Costa (Toine): Noémia Costa simplesmente arrasou no papel de Toine, a melhor e única verdadeira amiga de Piaf. Aliás, a Noémia foi tão boa que acabou por roubar a atenção do público. Sempre que estava em cena com Wanda Stuart o público estava mais interessado na Toine do que na Piaf. Isto porque Toine é a comedy relief do espectáculo. É de chorar a rir. Foi sem dúvida, enquanto actriz, a melhor que esteve em palco. Fantástica.

- Paula Sá (Marlene Dietrich): Não conhecia a conhecia sinceramente. E fiquei completamente pasmado com o vozeirão desta mulher. Foi, vocalmente a melhor em cena. No musical é a personagem dela que canta a conhecida La Vie en Rose. E a Paula cantou-a lindamente. Foi brilhante. Do tipo de voz que não pensei que houvesse em Portugal! Quanto à personagem...eu não sei se foi invenção do Filipe se foi da autora do musical,Pam Gems, mas esta "Marlene" é...lésbica. Talvez bissexual, mas como não a vemos com homem nenhum e só se atira a Piaf, deduzo que lésbica. O que me parece que não é de todo uma imagem verídica da verdadeira Dietrich. Pelo menos a imagem que tenho dela é sempre a de uma autêntica tarada que "papou" meio exército alemão. Independentemente disso, valeu só pela voz de Paula Sá.

- Bruno Galvão (Leplée, Marcel e médico): Conheci o Bruno em Jesus Cristo Superstar no papel de Pôncio Pilatos e confesso que não gostei de todo da sua interpretação. Em Piaf esteve muitíssimo melhor. Interpretou várias personagens é certo, mas todas muitíssimo bem. Gostei bastante de o ver.

Todos os outros actores tiveram também muito bem. A única coisa que não me agradou muito foi ver a forma patética como mais uma vez oficiais do Exército do III Reich são representados. Aparecem sempre como figuras apalermadas e desastradas, caricaturas de alemães, e acho que isso não joga a favor da credibilidade das personagens. Tirando isso está tudo muitíssimo bem conseguido e é uma hora e meia muito bem passada.
A adaptação para português estava também muito boa, sendo as músicas metade em francês, metade em português mas sem que se desse pela transição.
Aconselho VIVAMENTE todos os que não viram nos Açores ou no Porto a não perderem Piaf no Teatro Politeama.
E não se preocupem com quem fará de Piaf, se a Wanda Stuart se a Sónia Lisboa, porque no final do Espectáculo, quando Filipe La Féria subiu ao palco para fazer os agradecimentos da estreia etc, pediu a Sónia que cantasse um pouco para o público, ela cantou e encantou ;)
Podem ver mais sobre o Musical aqui .
Uma última nota para louvar o acordeonista Michele que esteve no foyer do Teatro Politeama a receber os convidados com músicas tipicamente francesas brilhantemente interpretadas no acordeão.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Os Produtores - Lisboa 28 de Fevereiro


Produtora nova, muitas dúvidas, preços absurdos e um erro colosal de casting foi o espírito com que fui ver o Musical Os Produtores ao Teatro Tivoli no dia 28 de Fevereiro. Já conhecia o Musical e sempre gostei dele. Como tal, a palavra que melhor descreve esta produção é: média.
Sobre o Elenco:
Como a Cherry é uma produtora recente, obviamente tinham de escolher nomes sonantes para os papéis. Nuns casos resultou, noutros não.
Como Max Bialystock, Miguel Dias é irrepreensível. Não era a minha primeira escolha, diga-se. Sempre que imaginei o Musical em Portugal, a cara de Max para mim era a de Herman José. Miguel Dias contudo não desilude, muito pelo contrário. Criando sempre grande empatia com o público arranca gargalhadas mesmo nas situações mais inesperadas.
Manuel Marques foi a escolha para o papel de Leo Bloom, o contabilista e depois sócio de Max. Ele como actor de comédia é muito bom. Como cantor nem por isso. Apesar de afinadinho, tem uma voz demasiado anasalada o que ao fim de um bocado se torna bastante irritante. Em palco, forma uma dupla gira com Miguel dias, porque praticamente são uma reinvenção do Bucha e Estica.
Rui Mello faz de Roger deBris, um encenador gay da Broadway mas que gosta de fazer os jornalistas crer que é hetero. Tinha visto o Rui na TV mas nunca foi actor que chamasse a atenção. Como Roger deBris ele foi simplesmente brilhante! Completamente de morrer a rir. Quando encarna Roger deBris a fazer de Hitler já não foi tão giro, mas mesmo assim, hilariante.
Rodrigo Saraiva encarna Carmen Ghia, o assistente super-gay de Roger deBris. O Rodrigo pula, dança, canta, salta, faz trinta por uma linha, mas nem é das personagens que tenha mais desenvolvimento. Contudo, faz um bom par com Rui Mello.
E agora vamos àqueles que foram completos erros de casting:
Pedro Pernas como Franz Liebkind, o alemão exilado que jura a pés juntos que não teve nada a ver com a Guerra. O Pedro pode ter formação, mas sinceramente não para musicais. O seu Franz era completamente desinspirado e uma tentativa falhada de imitar Will Ferrell (que fez o mesmo personagem no filme). Faltava-lhe credibilidade e o capacete de guerra dele mais parecia um penico de criança pintado de cinzento. Voz afinada e boa capacidade de dança, mas ficou-se por aí...
Custodia Galledo como Agarra-me, Dá-me Tautau. A Custódia faz o papel de uma das velhinhas que Max "come" para sacar o dinheiro para as suas peças. Pouco mais. É no fundo, mais um desperdicio no Musical do que um erro de casting.
E eis o meu grande problema:
Rita Pereira no papel de Ulla...a SUECA boazona (e sublinho SUECA). A Rita NÃO CANTA de todo. É bonita e tem um corpo bem torneado o que lhe valeu. E anda na moda, o que serve para atrair pessoas para o musical. Como não canta, o solo de Ulla, "When you got it, flaunt it" foi transformado num dueto onde Rita canta com Miguel Dias. Ora a grande voz do Miguel sobrepõe-se à da Rita e pronto, basicamente ela fica sujeita ao seu papel de "look hot". A peruca loira também não ajuda NADA. Ritinha, uma boa profissional pintaria o cabelo pelo menos ;) Mas enfim. Lado bom da Rita é mesmo o corpo fantástico que ela exibe durante todo o Musical e que dificilmente deixa alguém indiferente. A moça esforça-se, isso reconheço-lhe, mas sinceramente, Musicais não minha querida...
Quanto à orquestra, foi o ponto alto da tarde. 20 musicos na orquestra não é algo comum de ver em Portugal. Logo a musica soava fantastica. Já os cenários eram de um amadorismo primário. Eu sei que estou mal habituado aos cenários fantasticos do Filipe La Féria, mas quer o Cabaret quer o Sweeney Todd que não eram producções dele, tinham cenários melhores que estes Produtores. A encenação estava aceitavel contudo. Poucos momentos mortos, ideias giras para resolver o problema das mudanças de cenários...
Sobre a tradução:
As pessoas que me são mais chegadas sabem que este é para mim um ponto muito querido e importante. E este musical apesar de bem adaptado em termos de texto falado, estava fraquinho no que toca às músicas. Vogais extendidas para caber na metrica, traduções à letra mal conseguidas, rimas forçadas...enfim, algo não muito agradável para a minha pessoa. Além disso, canções como "King of Broadway" e "Old Bavaria" foram cortadas na versão portuguesa ao contrario de todas as versões de palco do resto do mundo.

O pior de tudo nesta produção não foi contudo os erros de casting nem a tradução. Foi sim o preço que a produtora cobra pelos bilhetes. 45€ pela primeira plateia é um ROUBO para a forma como este espetáculo foi apresentado. Porque se acharmos que estes 45€ são o preço aceitável, então vou ter de falar com o Filipe La Féria porque anda a cobrar muito pouco pelos seus espetáculos.
Como produtora nova a Cherry devia ter pensado em preços mais acessiveis para promover a própria editora em vez de querer cobrar tanto quando o público não a conhece. É que, num periodo de crise, este tipo de preços aplicado a um espetáculo com a baixa qualidade de Os Produtores, é um erro craso de marketing, especialmente quando só paguei 16€ para ir ver o Sweeney Todd ao Teatro Aberto e o espetáculo tinha o triplo da qualidade destes Produtores.
O resultado claro viu-se já: o Teatro está normalmente só metade cheio, e já houve sessões canceladas...
Em resumo, o musical é aceitável mas não vale de todo o $ cobrado. Por isso, só se forem fans de musicais como este vosso humilde servo ou não tiverem mesmo onde gastar o dinheiro é que vale a pena gastar o dinheiro para o ir ver. Caso contrário, vão antes ver o West Side Story que sempre aplicam melhor o dinheiro...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cabaret - Portugal



Tal como fiz com Sweeney Todd, fui até ao Teatro Maria Matos sem saber nada sobre o Musical. Tentei várias vezes ouvir os CDs. Não vi o filme porque regra geral, filmes Musicais assassinam o espetáculo. Tentei ouvir em várias línguas. Nunca consegui gostar da música. Tal como acontecera com Sweeney Todd. Mas tal como este, tive uma agradável surpresa. A música em palco faz muitíssimo mais sentido. Passemos à minha pequena "review":
- Sobre os cenários: O Teatro Maria Matos é consideravelmente mais pequeno que o Teatro Politeama ou o Tivoli, mas neste musical resultou muito bem. Os cenários eram inspirados na versão que esteve em cena em Londres à pouco tempo, com a orquestra em palco em cima de uma plataforma ao fundo. 4 portas e meia dúzia de cadeiras, uma cama, 2 ou 3 mesas, e um guarda-vestidos eram praticamente tudo o que havia. O ambiente criado contudo era bastante próximo ao de um verdadeiro Cabaret decadente da Alemanha dos anos 30.
- Sobre os Actores: Grande surpresa nesta área! Ana Lúcia Palminha no papel de Sally é sem dúvida a grande revelação. Eu não estava a acreditar que aquela rapariga era a mesma que na televisão tinha parecido tão fraquinha. Em palco ela era um autentico animal. Cantava bem, representava maravilhosamente e era SUPER divertida. Henrique Feist no papel de Emcee também foi fantástico. Gostei bem mais de o ver no papel aqui do que no papel de Tobby em Sweeney Todd. Por estranho que pareça, ele lembra-me imenso a estrela musical alemã Uwe Kröger. O Henrique parecia menos um palhaço nesta versão de Cabaret do que normalmente a personagem é. E eu gostei. Aliás, ele leva-nos a crer que é um autentico Nazi durante o Musical inteiro. A aparência dele é tipo um Hitler sem bigode. Só no fim percebemos que é judeu quando é gaseado. Pedro Laginha no papel de Cliff foi outra surpresa. Eu só o conhecia de o ver numa ou outra telenovela e ele aqui mostra o grande actor que é. Isabel Ruth é Fraulein Schneider. Eu não sei de onde conheço esta senhora, mas ela é-me estranhamente familiar. As musicas dela não eram particularmente inspiradas, mas no dueto dela com Herr Schultz não pude deixar de evitar rir com a frase "Tu...o ananás...e eu" Isto sim é romantismo. Herr Schultz é representado por Fernando Gomes um actor que nunca tinha visto em palco. Sempre que o via ou era nos Malucos do Riso ou na novela Todo o Tempo do Mundo. Carlos Gomes faz de Ernst Ludwig. Outro actor a quem conheço a cara mas não sei de onde. Estava muito bem.
- Sobre as traduções: Finalmente! Depois de Sweeney Todd, outro musical que não "assassina" as letras. Ana Zanatti fez um excelente trabalho. Isto beneficiou bastante o musical. Acho que resulta sempre melhor quando não é o encenador a traduzir o Musical. Porque facilmente se resvala para liberdades criativas que acabam por ser sempre as mesmas. A única liberdade tomada aqui foi transformar a musica "Two Ladies" em que Emcee estaria na cama com duas mulheres, numa musica em que Emcee está na cama com uma mulher...e um homem. Um menage à trois bissexual no fundo.
- No geral "Cabaret" é uma noite muito bem passada. Ri-me imenso, e gostei muito mais do que estava à espera. O público também pareceu gostar imenso e isso vê-se no facto de terem estendido as representações até 15 de Fevereiro de 2009 em vez de terem terminado a 28 de Dezembro de 2008 como estava planeado. Por mim poderia estar em cena por muito mais tempo. Outro bom indicador foi o facto de eu ter comprado o bilhete em Setembro de 2008...e só ter conseguido arranjar para dia 18 de Dezembro do ano passado.
Este musical merece um 4 em 5. (Sendo que só dei 5 até hoje ao melhor musical já criado, Rebecca.). Para aqueles que estão indecisos entre Cabaret ou West Side Story...Cabaret é melhor opção. Gosto muito do meu amigo Filipe La Féria, mas continuo a achar West Side Story um musical muito lamechas e estagnado no tempo (anos 50) por mais milagres que o Sr. Filipe tenha feito, Cabaret sempre dá para rir um bocadinho mais. No entanto, se puderam, vejam os dois claro.