sábado, 3 de janeiro de 2009

Cabaret - Portugal



Tal como fiz com Sweeney Todd, fui até ao Teatro Maria Matos sem saber nada sobre o Musical. Tentei várias vezes ouvir os CDs. Não vi o filme porque regra geral, filmes Musicais assassinam o espetáculo. Tentei ouvir em várias línguas. Nunca consegui gostar da música. Tal como acontecera com Sweeney Todd. Mas tal como este, tive uma agradável surpresa. A música em palco faz muitíssimo mais sentido. Passemos à minha pequena "review":
- Sobre os cenários: O Teatro Maria Matos é consideravelmente mais pequeno que o Teatro Politeama ou o Tivoli, mas neste musical resultou muito bem. Os cenários eram inspirados na versão que esteve em cena em Londres à pouco tempo, com a orquestra em palco em cima de uma plataforma ao fundo. 4 portas e meia dúzia de cadeiras, uma cama, 2 ou 3 mesas, e um guarda-vestidos eram praticamente tudo o que havia. O ambiente criado contudo era bastante próximo ao de um verdadeiro Cabaret decadente da Alemanha dos anos 30.
- Sobre os Actores: Grande surpresa nesta área! Ana Lúcia Palminha no papel de Sally é sem dúvida a grande revelação. Eu não estava a acreditar que aquela rapariga era a mesma que na televisão tinha parecido tão fraquinha. Em palco ela era um autentico animal. Cantava bem, representava maravilhosamente e era SUPER divertida. Henrique Feist no papel de Emcee também foi fantástico. Gostei bem mais de o ver no papel aqui do que no papel de Tobby em Sweeney Todd. Por estranho que pareça, ele lembra-me imenso a estrela musical alemã Uwe Kröger. O Henrique parecia menos um palhaço nesta versão de Cabaret do que normalmente a personagem é. E eu gostei. Aliás, ele leva-nos a crer que é um autentico Nazi durante o Musical inteiro. A aparência dele é tipo um Hitler sem bigode. Só no fim percebemos que é judeu quando é gaseado. Pedro Laginha no papel de Cliff foi outra surpresa. Eu só o conhecia de o ver numa ou outra telenovela e ele aqui mostra o grande actor que é. Isabel Ruth é Fraulein Schneider. Eu não sei de onde conheço esta senhora, mas ela é-me estranhamente familiar. As musicas dela não eram particularmente inspiradas, mas no dueto dela com Herr Schultz não pude deixar de evitar rir com a frase "Tu...o ananás...e eu" Isto sim é romantismo. Herr Schultz é representado por Fernando Gomes um actor que nunca tinha visto em palco. Sempre que o via ou era nos Malucos do Riso ou na novela Todo o Tempo do Mundo. Carlos Gomes faz de Ernst Ludwig. Outro actor a quem conheço a cara mas não sei de onde. Estava muito bem.
- Sobre as traduções: Finalmente! Depois de Sweeney Todd, outro musical que não "assassina" as letras. Ana Zanatti fez um excelente trabalho. Isto beneficiou bastante o musical. Acho que resulta sempre melhor quando não é o encenador a traduzir o Musical. Porque facilmente se resvala para liberdades criativas que acabam por ser sempre as mesmas. A única liberdade tomada aqui foi transformar a musica "Two Ladies" em que Emcee estaria na cama com duas mulheres, numa musica em que Emcee está na cama com uma mulher...e um homem. Um menage à trois bissexual no fundo.
- No geral "Cabaret" é uma noite muito bem passada. Ri-me imenso, e gostei muito mais do que estava à espera. O público também pareceu gostar imenso e isso vê-se no facto de terem estendido as representações até 15 de Fevereiro de 2009 em vez de terem terminado a 28 de Dezembro de 2008 como estava planeado. Por mim poderia estar em cena por muito mais tempo. Outro bom indicador foi o facto de eu ter comprado o bilhete em Setembro de 2008...e só ter conseguido arranjar para dia 18 de Dezembro do ano passado.
Este musical merece um 4 em 5. (Sendo que só dei 5 até hoje ao melhor musical já criado, Rebecca.). Para aqueles que estão indecisos entre Cabaret ou West Side Story...Cabaret é melhor opção. Gosto muito do meu amigo Filipe La Féria, mas continuo a achar West Side Story um musical muito lamechas e estagnado no tempo (anos 50) por mais milagres que o Sr. Filipe tenha feito, Cabaret sempre dá para rir um bocadinho mais. No entanto, se puderam, vejam os dois claro.