terça-feira, 29 de junho de 2010

Adeus à "Gaiola das Loucas"












Bom, tendo recuperado financeiramente do rombo nas contas que sofri por causa da visita a Viena, não resisti a ir ver "A Gaiola das Loucas" simplesmente por ser um espectáculo do Filipe La Féria. Como já disse, se há coisa de que estou farto é ouvir falar de homossexuais!
Mas lá fui dia 27, domingo, à última representação do Musical no Teatro Politeama.

Em termos de espectáculo a produção estava muito boa. Gostei especialmente da utilização de vídeos para contar também a história e mostrar a descida dos Alarcões desde a Cidade do Porto até Cascais. Não é nada novo (lá fora já fazem isto há anos) mas certamente é uma novidade em Portugal. O que é bom. Os cenários estavam também muito bons tal como o guarda roupa. Ao contrário de West Side Story, não havia nada que já tivesse visto noutra produção de La Féria.

Quanto ao Musical em si:
- Enquanto PEÇA TEATRAL, é de chorar a rir. Para isso contou muito, claro, o talento desmedido do José Raposo no papel de Carlos Alberto/Zázá Napoli, o travesti principal do bar "Gaiola das Loucas" e o centro desta peça. Talento esse ao qual se juntou Carlos Quintas como Armando del Carlo, o seu companheiro, de Rita Ribeiro no papel de Simone, a mãe biológica do filho de Armando. E claro, Joel Branco e Helena Rocha nos papéis de Arnaldo e Maria do Céu Alarcão, os nortenhos à frente do Partido da Moral e do Progresso.
A história é muito básica. É o típico "meet the parents". Dois jovens apaixonam-se e querem casar e chega a altura das famílias se conhecerem. Não é nada de muito inovador e já foi e ainda é usado em muitos musicais pelo mundo (do qual o mais recente é A Família Addams.).
Nesta história o humor reside do confronto entre os Alarcão, conservadores, religiosos, tripeiros, e o casal gay Carlos e Armando, maricas, liberais e mouros.
Isto tudo deu 2 horas de boa comédia.
- Enquanto MUSICAL, "A Gaiola das Loucas" é muito fraco. As músicas não servem nunca nenhum propósito, não avançam a história, são simplesmente "show stoppers". Depois apesar de algumas melodias serem bonitas ou divertidas, outras são simplesmente "meh". Se retirassem desta peça todas as músicas, continuariam com uma grande peça de Teatro. Quando isto acontece, para mim, é mau sinal.

Na despedida da "Gaiola das Loucas", como é praxe, os actores tomaram algumas liberdades, sendo o momento mais marcante o jantar. Durante o inicio do jantar, depois da chegada de Zázá vestido de mulher a fazer-se passar pela mãe de Ricardo, ficam todos sentados à mesa num daqueles silêncios constrangedores...e eis que, no meio do público estava sentada uma senhora que se começou a rir a bandeiras despregadas. Isto seria normal...acontece que o riso da senhora era um daqueles risos NADA normais. Resultado: a senhora ria-se, o público ria-se e os actores não conseguiam avançar com a peça. E eis que para ajudar à festa, o José Raposo começa a imitar o riso da senhora do público. Pronto. Foi tudo abaixo. Ria-se a senhora, ria-se o público, riam-se os actores. Foi de ir às lágrimas literalmente.

Acabou por ser uma tarde muito bem passada. Claro que, enquanto conservador e católico não levei a sério nenhuma das supostas "criticas" que o musical faz. Levei a peça com humor simplesmente e isso permitiu-me desfrutar de algo que se estivesse sempre com a política na cabeça teria sido um atentado contra as minhas crenças.
De parabéns está, claro, todo o elenco, desde o Carlos Quintas ao Hugo Rendas, da Rita Ribeiro ao Joel branco.
Mas tenho de fazer uma menção muito especial, tirando aquela que já fiz ao José Raposo. Esse menção é para Filipe Albuquerque, o criado completamente bicha de Armando e Carlos Alberto. Ele foi simplesmente de chorar a rir. Era o estereótipo ao extremo de um homossexual bicha, daqueles que gosta de dar espectáculo em marchas pelas ruas.
Não conhecia o Filipe, pelo menos o nome não me diz nada, sendo portanto a revelação da tarde para mim. E claro o José Raposo que é, a meu ver, um dos actores mais subvalorizados deste País. Claro que não é um pavaroti e a nível vocal pode não estar em pé de igualdade com nenhum actor em Viena ou na Broadway, mas enquanto actor está ao lado senão mesmo acima de muitos deles!

Uma última nota só para lamentar que, no final do espectáculo, Filipe Lá Féria não tenha subido ao palco como costume para fazer o discurso de despedida. Os actores receberam todos um ramo de flores e foi só isso. Mas certamente que a ausência de Filipe La Féria está justificada com o facto de estarem a decorrer a todo o gás os ensaios de "Fado: História de um Povo" que vai estrear brevemente no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril.

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